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Velha demais, jovem demais: o encontro entre gênero e etarismo

Por que mulheres parecem nunca estar na idade certa em uma carreira profissional?

O mercado de trabalho é etarista e este texto existe para te explicar por quê. Esse preconceito começa como a discriminação relacionada ao envelhecimento. A principal alegação é de que as habilidades dos funcionários são negativamente afetadas pelo avanço da idade. Assim, espera-se que os colaboradores mais velhos silenciosamente deixem seus cargos para que talentos da nova geração assumam. 

Um levantamento do Infojobs mostra que 78% dos profissionais brasileiros acreditam que o mercado de trabalho marginaliza pessoas com mais de 40 anos em favor dos mais jovens. Mas esse preconceito pode afetar pessoas em diferentes etapas da vida: atualmente a OMS (Organização Mundial da Saúde) define etarismo como todo e qualquer preconceito com base na idade de um indivíduo, independentemente de qual seja. O levantamento do Infojobs também revelou que 67% dos trabalhadores de todas as faixas etárias do Brasil já sofreram com ele, e em 2023, os processos em tramitação na Justiça do Trabalho com o tema etarismo somavam mais de R$20 milhões em petições iniciais.

Contudo, a intersecção entre preconceito de idade e gênero evidencia algo ainda mais crítico: mulheres de diferentes idades enfrentam as mesmas dificuldades para serem contratadas, reconhecidas e promovidas no trabalho. Uma pesquisa com lideranças femininas de diversos setores publicada na Harvard Business Review mostrou que, depois dos 50 anos, as mulheres passam a ser vistas como ultrapassadas e obsoletas, sendo ignoradas nos planos de sucessão de cargos nas empresas. Já os seus colegas homens com a mesma idade são vistos como sábios e experientes. De acordo com uma pesquisa da iStock, 80% das mulheres da América Latina já sofreram discriminação por serem “muito velhas”, contra 49% dos homens.

Mulheres mais jovens, ou que parecem mais novas, por outro lado, são confundidas com cargos de menor senioridade e têm suas competências e habilidades frequentemente questionadas. Elas também se vêem reduzidas apenas a sua aparência e acabam adotando diversos mecanismos de defesa para lidar com esse estereótipo, como roupas que a façam parecer mais maduras ou menos femininas. Aquelas na chamada meia-idade não escapam: para elas, questões relacionadas à família e até à menopausa tornam-se empecilhos para avançar profissionalmente.  

Questionamos nossas seguidoras do Instagram se elas já viveram algo parecido e algumas respostas chamaram a nossa atenção:

Fica evidente que, para uma mulher, não existe uma idade ideal na carreira porque “o ideal” mesmo é ser um homem: estigmatizadas por seus colegas e supervisores, 87% das mulheres brasileiras acreditam ter menos oportunidades no trabalho que os homens por conta das barreiras impostas por preconceitos de gênero e idade. Com efeito, também será cada vez mais difícil ver mulheres em posição de liderança se elas forem sempre muito jovens ou muito velhas para ocupar cargos de influência e alto nível hierárquico. Reconhecer a presença da discriminação etária nas culturas organizacionais é um primeiro passo fundamental, mas apesar de ações de diversidade e inclusão serem cada vez mais comuns nas empresas, o combate ao etarismo segue sendo amplamente negligenciado – e isso se aplica à intersecção entre o preconceito de idade e gênero.

Para mudar essa realidade, algumas práticas podem ser adotadas: 

  • As decisões sobre contratações ou promoções, por exemplo, devem ser tomadas com base nas habilidades desejadas para a função independente de quem as possui, pois um dos princípios do etarismo é limitar as potencialidades das pessoas no trabalho ao presumir que alguém ainda não possui ou deixou de ter alguma competência para desenvolvê-lo. 
  • É também imprescindível cultivar uma cultura organizacional onde diferentes gerações são valorizadas pelo conhecimento que têm e pelo que podem aprender, possibilitando conexões entre elas para um crescimento mútuo. 
  • Por último, mas não menos importante, mulheres de todas as idades devem ser estimuladas a desenvolver o autoconhecimento e autoconfiança, além de receberem as oportunidades necessárias para construir e alavancar a própria carreira, em qualquer etapa da vida.

O mercado de trabalho – e o mundo – está em transformação: segundo o IPEA, até 2040 metade da força de trabalho brasileira terá mais de 50 anos. O potencial humano não se limita à juventude ou à velhice, mas só será aprimorado quando as barreiras machistas e etaristas forem eliminadas no ambiente profissional, permitindo maior igualdade de oportunidades para mulheres, sem importar a carreira escolhida ou a fase da vida em que elas se encontram.

Este conteúdo foi escrito em colaboração com Rubiana Viana.

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