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Degrau quebrado? Para as mulheres, se manter na liderança é tão difícil quanto chegar lá

Nova edição do relatório Women in the Workplace, da McKinsey em parceria com a LeanIn.org, alerta para a alta rotatividade de mulheres em cargos de liderança. 

A presença de mais mulheres em cargos de liderança tem gerado resultados cada vez mais positivos nas empresas que apostam na diversidade de gênero:  elas aumentam, e muito, o desempenho em ESG das empresas e têm melhores performances durante crises. Mulheres líderes também influenciam no crescimento de até 20% nos lucros e de 54% na criatividade e na inovação das empresas. Mas apesar disso, elas são apenas 3,5% dos CEOs do mundo e 37,4% das lideranças de empresas do Brasil – as mulheres negras representam apenas 3% desse total. Nos últimos anos, ampliar o número de mulheres na liderança se tornou um dos principais objetivos das empresas. Segundo levantamento da ManpowerGroup, das 39 mil organizações pesquisadas, 82% possuíam essa meta, com data limite para ser concluída entre 2022 e 2023. Mas o problema não acaba quando as mulheres se tornam líderes. E ignorar isso pode dificultar o avanço na equidade de gênero.

O relatório “Women in the Workplace 2022”, da McKinsey em parceria com o LeanIn.Org, pontuou que líderes mulheres estão trocando de trabalho em taxas nunca vistas antes. Por isso, além de trabalhar para fazer avançar para outros cargos a desproporcional quantidade de mulheres nos cargos iniciais, as empresas agora precisam se engajar na retenção de talentos femininos nos níveis de gestão, já que, segundo o estudo, para cada mulher que alcança um cargo de diretoria, duas líderes têm optado por deixar suas empresas. Micro-agressões, falta de reconhecimento, apoio e suporte psicológico foram as maiores barreiras relatadas pelas mulheres líderes e os principais motivos para deixarem suas organizações. Esses fatores atingem mulheres que pertencem a grupos minorizados em maior proporção: apesar de líderes mulheres em geral terem  duas vezes mais chances de serem confundidas com alguém de menor senioridade, 47% das líderes com deficiência tiveram sua especialidade questionada sobre algum assunto e 56% das líderes negras se sentem excluídas no ambiente de trabalho, números que se destacam em comparação a outros grupos.

Outro ponto crucial é que quanto mais os homens avançam nos cargos de liderança, menor é a sua responsabilidade com as tarefas domésticas e de cuidado, o que não acontece com as mulheres: no caso delas, essa responsabilidade permanece estável em taxas elevadas cada vez que elas assumem uma posição mais alta na empresa. Se mais da metade das mulheres de todos os níveis gastam tempo com trabalho de cuidado, em relação aos homens essas taxas eram de 30% nos níveis iniciais, 21% nos primeiros níveis de gerência e 12% nos níveis sênior. Gastar tempo e energia em trabalhos não remunerados e não recompensados causa uma enorme sobrecarga nestas líderes – 43% delas apresentam sintomas de burnout contra 31% dos líderes homens. No Brasil, as mulheres em geral são 73% mais afetadas pelo burnout do que os homens, e durante a pandemia, 50% das mulheres em cargos de gerência sofreram com esse mal. 

Não por acaso, para 55% destas líderes, o comprometimento com o bem-estar dos funcionários é um dos pontos mais importantes a se considerar na hora de mudar de empresa. Para outras 66%, flexibilidade foi um ponto destacado. Durante a pandemia, 44% das mulheres brasileiras estavam considerando deixar seus trabalhos por outros mais flexíveis. Entre as mulheres com menos de 30 anos, esses números são ainda mais elevados: 76% acham a flexibilidade muito importante e 68% o comprometimento com bem-estar. Dois terços delas também dizem que estariam mais interessadas em avançar nas carreiras se vissem suas líderes alcançarem o equilíbrio que tanto desejam entre vida pessoal e trabalho. Isso significa, segundo o relatório, que, ao negligenciar as líderes de hoje, corremos um sério  risco de perder as líderes de amanhã.

Como sua empresa tem avançado na liderança feminina?

 

Este conteúdo foi escrito em colaboração com Rubiana Viana.

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