De acordo com pesquisa da ONG TODXS, o grupo sofre duas vezes mais com assédio moral do que pessoas heterossexuais.
Para pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, ter autonomia financeira é fundamental. Segundo relatório da ONU, por causa da marginalização, discriminação e estigma que começa ainda na juventude, esta população é excluída social e economicamente, estando vulnerável à informalidade, fome, situação de rua, entre outros tipos de violência.
Um estudo da Universidade de Connecticut com jovens com menos de 18 anos que declaravam-se lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais revelou que apenas 24% deles sentiam-se confortáveis para serem eles mesmos nas suas casas e só 26% sentiam-se seguros no ambiente escolar. Mais de 70% relatou sofrer ameaças homofóbicas em ambos os espaços, o que pode mudar radicalmente o curso de suas vidas: um levantamento feito pela UFMG mostrou que 5,8% das travestis de Belo Horizonte afirmaram ter saído de casa com menos de 12 anos de idade por causa do preconceito sofrido no ambiente familiar.
A falta de uma rede de apoio e acolhimento causa profundos danos emocionais e psíquicos, mas também torna o futuro instável ao restringir oportunidades. A LGBTfobia eleva as chances de evasão escolar para esta população, e com menor escolaridade, há maior probabilidade de se inserir no mercado de trabalho informal – um cenário em que a precarização e os baixos rendimentos expõem pessoas LGBTQIAP+ a sérias vulnerabilidades sociais.
Um emprego seguro e digno pode significar proteção, acesso à saúde, exercício dos direitos e mais oportunidades para pessoas com diferentes identidades de gênero e orientação sexual. Mas, em um mercado de trabalho que ainda reproduz desigualdades socioculturais, como essa comunidade tem sido recebida?
Analisando os dados sobre a violência que atinge pessoas da comunidade LGBTQIAP+ no trabalho, a resposta não é nada boa. Segundo levantamento do LinkedIn:
- 43% das pessoas LGBTQIAP+ já sofreram discriminação nesse contexto.
- 57% das mulheres lésbicas e bissexuais foram discriminadas no ambiente organizacional
- 86% das pessoas trans já sofreram transfobia nos mesmos espaços.
Já a ANTRA (Articulação Nacional de Travestis e Transexuais), mostra que:
- Apenas 4% das mulheres trans e travestis têm empregos formais no Brasil.
- 72% não concluíram o ensino médio
- 0,02% frequentam a universidade
Cabe lembrar que o Brasil também é o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo e que 90% das mulheres trans e travestis do país têm como principal fonte de renda a prostituição – resultado de um processo persistente de marginalização e exclusão que, como vimos, começa na infância e no meio familiar.
Mulheres LBT+ e o assédio no trabalho
Quando se trata de assédio sexual, mulheres representam 79% das vítimas do país, é necessário adicionar as lentes interseccionais para compreender como essa violência tem afetado um grupo tão diverso.
Algumas mulheres estão muito mais vulneráveis a diferentes tipos de violações. Por exemplo, podendo sofrer as consequências do machismo, racismo, homofobia e/ou transfobia ao mesmo tempo.
A maior parte das mulheres LBT+ viveu abusos e constrangimentos sexuais no trabalho: um levantamento feito pelo movimento International Day Against Homophobia, Transphobia and Biphobia revelou que:
- 70% mulheres lésbicas, bissexuais e transsexuais já sofreram assédio sexual no ambiente organizacional. E, deste total:
- 42% ouviram comentários inadequados sobre sua vida sexual
- 27% receberam avanços sexuais indesejados
- 21% receberam toques inapropriados não consentidos
- 12% sofreu grave violência sexual.
Não por acaso, todos esses números duplicam entre mulheres LBT+ negras e com deficiência. Um ambiente de trabalho hostil e predatório impede o exercício de um direito fundamental a todas as pessoas – o de serem elas mesmas em qualquer lugar: somente 38% das mulheres lésbicas e bissexuais falam sobre sua orientação sexual no trabalho, ainda que a maior parte delas sinta-se plenamente confortável com a própria sexualidade.
Contudo, o mais preocupante é que, apesar dos números, pouco se fala sobre como o assédio sexual afeta a vida destas mulheres, uma vez que os diferentes aspectos que compõem suas identidades são objeto de estigma e preconceito, o que desumaniza suas vivências e a violência a elas destinada. Não por acaso, apenas 30% das mulheres LBT+ vítimas de assédio realizam denúncias.
“Já tinha me assumido nesta época e os homens me cortejavam (…) Passavam pela mesa, faziam um comentário, deixavam uma flor… O pior dia foi quando invadiram meu computador e colocaram imagens pornográficas.”
Relato de uma mulher lésbica executiva da área de TI ao Valor Econômico
Mesmo com alguns avanços na inclusão de pessoas LGBTQIAPN+ no mercado de trabalho e o combate à violência homofóbica promovido por algumas organizações, esse movimento ainda é restrito e não teve todo impacto desejado: 66% dos profissionais LGBTQIAPN+ acreditam que assumir sua identidade gênero ou orientação sexual poderá prejudicar a sua carreira e 82% não se sentem acolhidos nas empresas que trabalham. Para uma população que tem o trabalho com um importante catalisador de inclusão social, o ambiente organizacional ainda repete o perigoso ciclo de exclusão pautado no preconceito, um problema grave cujas consequências impactam diretamente a sociedade. Essa é uma mudança que começa com a participação dos aliados, uma vez que 53% das pessoas heterossexuais que trabalham com pessoas LGBTQIAPN+ já presenciaram homofobia no trabalho.
Nos mês em que celebramos o orgulho que temos desta comunidade, é preciso mostrar que a queremos protegida – uma responsabilidade de todas as pessoas, em todos os lugares.
Este conteúdo foi escrito em colaboração com Rubiana Viana.