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Agosto Lilás: a causa que todas nós devemos apoiar (vem saber porquê!)

Enquanto você lê esse texto, 35 mulheres sofrem violência doméstica.
O que sua empresa pode fazer sobre isso? 

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ao longo de 2022, 35 mulheres sofreram violência doméstica a cada minuto no Brasil, o pior índice da série histórica. As vítimas podem faltar cerca de 18 dias por ano ao trabalho, gerando até R$1 bilhão de prejuízo ao país. Para além do aspecto financeiro, muitas vítimas não conseguem deixar o contexto de abusos por não possuírem uma rede de apoio estruturada que oferece acolhimento, auxilie na realização de denúncias, na sua reorganização psicossocial e, o mais importante, ajude-a a compreender que a situação em que vive trata-se de uma violência.

 

Neste mês participamos de uma das campanhas mais importantes na luta em defesa das mulheres, o Agosto Lilás. Criada em 2016 pela Subsecretaria de Políticas Públicas do Mato Grosso do Sul para celebrar os 10 anos da Lei Maria da Penha, a campanha ganhou força em diferentes regiões do Brasil, tornando-se lei em todo território nacional em 2022. O objetivo é intensificar o combate à violência doméstica por meio de ações de conscientização e da divulgação dos serviços de apoio e assistência. Ao longo do mês, diversas atividades são realizadas com o apoio de órgãos públicos, organizações não governamentais, setor privado e diferentes atores da sociedade civil. 

O Agosto Lilás reforça a responsabilidade coletiva e compartilhada por todos, em todas as instâncias. No dia a dia, por exemplo, até mesmo os pequenos gestos fazem a diferença, como conhecer e compartilhar informações sobre denúncias, saber identificar quando uma mulher precisa de ajuda ou ensinar as crianças, desde cedo, que a violência de gênero é inaceitável. Além das ações individuais na vida privada e da atuação do poder público, precisamos – cada vez mais – colocar o setor privado nessa conversa. 

Uma pesquisa do Observatório da Mulher em parceria com o DataSenado mostrou que 46% das vítimas de violência doméstica não denunciam seus agressores porque dependem financeiramente dele, ou seja, estar ou não economicamente ativa pode ser determinante para alguém que está sofrendo abusos. Essa questão, entretanto, não se encerra com a inserção da vítima no mercado de trabalho, já que a relação entre empregabilidade feminina e violência doméstica tem como base os preconceitos de gênero. De acordo com levantamento do Ipea, mulheres que trabalham fora do ambiente doméstica estão duas vezes mais vulneráveis à violência doméstica do que as que trabalham dentro de casa, pelos mais variados motivos. O principal deles, não por acaso, é a concepção machista do papel da mulher na sociedade: “(…) Em muitos casos, porém, a presença feminina no mercado de trabalho – por contrariar o papel devido à mesma dentro de valores patriarcais – faz aumentar as tensões entre o casal, o que resulta em casos de agressões”, afirma o Ipea. 23% das vítimas de violência doméstica já recusaram ou desistiram de uma oportunidade de emprego porque o companheiro era contra.

Em todo esse processo, o apoio no espaço de trabalho pode ser decisivo, mas como as empresas participam dessa transformação de maneira ética, socialmente responsável e com governança? Muitas organizações já avançaram nessa frente de forma inovadora. Aqui, destacamos algumas que se tornaram verdadeiras aliadas nessa luta:

O pioneirismo de Magalu 

Em 2017, Magalu criou o Canal Mulher: uma linha de atendimento a colaboradores que aciona apoio psicológico, jurídico e realocação em casos de violência doméstica, logo após um feminicídio abalar a organização. Magalu também capacitou gestores para identificar possíveis vítimas. Em 2019, inseriu dentro do seu aplicativo de compras um botão que permite aos usuários acionar a polícia ou o 180 – ações que convocaram diversas empresas a criarem suas próprias políticas de proteção à mulher.

Marisa e o canal #MarisaAcolhe

Inspiradas no trabalho de Magalu, a rede decidiu criar o seu próprio canal de acolhimento com suporte psicológico, jurídico, transferência de unidades e escolta para delegacias. Além disso, mesmo tendo um quadro de funcionários 72% feminino, Marisa reforçou o trabalho de conscientização com homens para identificarem situações de violência. 

Movimento Natura e o curso Relações Saudáveis 

Um levantamento da própria empresa mostrou que uma em cada três consultoras da sua rede vivia em um contexto de violência doméstica. Diante disso, a Natura desenvolveu uma solução para acolhê-las e capacitá-las, tornando-as aptas a romper ciclos de relações abusivas e a identificar mulheres na mesma situação, reforçando a rede de denúncias. O curso é oferecido gratuitamente via WhatsApp.

Ambev e a Política de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica 

Pensando nas pessoas em situação de violência familiar que buscavam ajuda dentro da empresa, Ambev desenvolveu uma política que abrange diferentes vulnerabilidades. Ela aciona recursos de apoio, como flexibilização do horário de serviço, licença remunerada e abono de faltas. A maior parte da equipe é composta por homens que participam de espaços de reflexão e informação para se tornarem aliados na causa.

Sodexo, cuidado e profissionalização para mulheres

Além de um canal interno que apoia funcionárias e familiares, a Sodexo criou um programa de profissionalização que atende vítimas de violência doméstica, pessoas trans e refugiadas, o Somos Todos Cuidadores. A empresa instruiu os funcionários a identificar e denunciar os casos, treinando um grupo voluntário para acolher vítimas e orientar jurídica e psicologicamente – as Fadas Madrinhas. Participa ainda do programa da cidade de São Paulo, o Tem Saída, focado na autonomia financeira e na empregabilidade feminina.

Instituto Avon e a defesa das meninas e mulheres
O instituto nasceu há 15 anos com foco no combate ao câncer de mama e no enfrentamento à violência de gênero, articulando o setor público e o privado, apoiando projetos, engajando a sociedade e desenvolvendo pesquisas. Além disso, trabalha com 1,5 milhão de revendedoras, que rastreiam as necessidades de suas comunidades e compartilham saberes, abrangendo todo o território nacional. O instituto lidera ainda a Coalizão Empresarial pelo Fim da Violência Contra Mulheres e Meninas, que conta com 130 integrantes do setor privado e realiza ações voltadas para o ambiente de trabalho para acolher meninas e mulheres.

Ainda que o Agosto Lilás impulsione os esforços na luta contra a violência doméstica e reforce o senso de responsabilidade coletiva pela causa, todo esse empenho não pode ser resumido a um único mês. É por isso que as ações implementadas pelas organizações aliadas à proteção da vida das mulheres representam bem a essência dessa campanha: o compromisso inegociável com o enfrentamento da violência de gênero, assumido por toda a sociedade. Com ética e inovação, é possível transformar o mundo.

Este conteúdo foi escrito em colaboração com Rubiana Viana.

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