No mundo cor-de-rosa, ela teve mais de 200 e realmente foi tudo o que quis ser. Mas e as meninas que brincavam de Barbie?
Criada em 1959 com a missão de estimular meninas a sonhar com seus futuros para além da maternidade ou casamento, a Barbie fez jus ao slogan que carrega. Ao longo das décadas, a boneca idealizada por Ruth Handler e lançada pela Mattel acompanhou as grandes transformações da sociedade e, principalmente, da força de trabalho feminina, tornando-se astronauta, presidente, juíza, desenvolvedora de jogos e muito mais. Onde há uma mulher – e até onde ainda não houver – há uma Barbie, e assim, mesmo com todas as controvérsias, a boneca mais famosa do mundo acompanhou importantes marcos culturais . No entanto, como no filme, Barbieland não é um reflexo da vida real e portanto, ainda que não falte talento, desejo e força de vontade, as meninas nem sempre conseguem ser o que sonham.
Profissões ao longo da história
Em 1965, com o início da corrida espacial, surgiu a Barbie Astronauta. A ideia era inspirar meninas a se verem explorando esse novo território no futuro, mas ainda hoje, as mulheres são apenas 13% de todas as pessoas do planeta que já foram ao espaço. E apesar de termos uma Barbie Piloto de Avião, no mundo todo, mulheres são apenas 5% de todos os pilotos do mundo – aproximadamente 7.400 mulheres contra mais de 135 mil homens. Existe uma Barbie presidente desde 1992, mas nos dias de hoje, apenas 10% dos países do mundo são liderados por mulheres. A Barbie também já foi atleta de diferentes modalidades, como surfe, escalada, karatê, skate, boxe, futebol, natação… Mas apenas 4% da mídia esportiva é dedicada às modalidades femininas, e no futebol brasieiro, a premiação do campeonato feminino é 3% do valor pago ao masculino.
As meninas têm seu leque de escolhas reduzido de muitas formas. Os estereótipos de gênero presentes nas sala de aula, por exemplo, levam mulheres a carreiras tradicionalmente associadas ao cuidado, gerando uma segregação ocupacional. Isso explica, porque elas ainda representam apenas 20% dos profissionais no mercado de TI e 16% dos estudantes da área. Mas o mais preocupante é que os efeitos dos estereótipos de gênero começam muito antes do que se imagina: por causa deles, as meninas desistem de ser cientistas ou astronautas já na pré-adolescência. No esporte, recebem desde a infância muito menos incentivos do que os meninos para ingressar em categorias de alto desempenho. Para piorar essa onda de baixas expectativas, apenas 5% das meninas do mundo sonham em ser presidentes.
É claro que a Barbie, sozinha, não muda estruturas. Tampouco é possível afirmar que ela foi influência positiva para as meninas do mundo, como se propôs. Ainda assim, em 2016 e 2018, a Barbie Desenvolvedora de Jogos e a Barbie Engenheira Robótica surgiram tendo como acessórios lições de programação que visavam estimular meninas a se conectarem ao mundo da programação e computação. Apesar do aumento nos últimos anos, mulheres são apenas 30% dos pesquisadores em ciência, tecnologia, engenharia e matemática e 12% dos líderes seniores de empresas tech. Considerando o histórico, o cenário não parece favorável – mas nem tudo está perdido. As mulheres do mundo real ainda podem virar o jogo, nesse campo e em todos os outros.
Iniciativas para mudar essa realidade
Projetos como o Meninas na Computação, Cunhatã Digital e Meninas Digitais trabalham para atrair e apoiar meninas de todo o país e em diferentes etapas escolares na tecnologia, oferecendo a elas capacitações e referências femininas. Na verdade, um levantamento da USP mostrou que até os anos 70, as primeiras turmas de ciência da computação do Brasil eram femininas, mas o surgimento dos computadores domésticos e do rótulo “videogame é coisa de menino” aos poucos mudou esse cenário. É hora de acabar com esse mito.
Iniciativas como Uma Vitória Leva à Outra e Pretas em Campo da ONG Empodera ou a Futebol Delas da ONG Visão Mundial, incentivam meninas em categorias de alto desempenho no esporte, estimulando o autoconhecimento, autocuidado e o coletivismo para elas enfrentarem juntas os velhos estereótipos. Projetos como o #ElasnaEscola do Elas no Poder, e Gênero na Escola do Ação Educativa em parceria com a Fundação Malala levam educação política e promovem reflexões que impulsionam autonomia e cidadania – desse modo, elas crescem seguras e confiantes dos seus direitos, moldando lado a lado um futuro onde todas possamos ser o que quiser.
Enquanto criamos um mundo melhor para as mulheres do futuro, é preciso agir pelas que estão em atividade hoje, pois seja como atleta ou executiva de negócios, mulheres terão dificuldades de retomar suas carreiras depois da maternidade. E, caso sonhem em liderar, isso será mais provável de acontecer no RH ou no Marketing. Planos de carreira adaptados, distribuição mais igualitária entre áreas e comprometimento para que a diversidade funcione em todos os setores e possibilite a presença feminina em todos os espaços são pontos de partida para algo inovador: tornar a Barbieland um pouquinho mais tangível.